sábado, 3 de dezembro de 2016

Porque sem companhia é mais difícil

Todo mundo saiu. Para um passeio divertido. Fiquei em casa sozinha. A deadline vai se aproximando e preciso terminar o livro.

Estou sentada na mesa da cozinha tomando um café antes de começar quando penso que estou sem cigarros, e sem dinheiro, sem cartão, sem nada. Vou ficar o dia todo escrevendo sem cigarros.

Trinta segundos depois, o celular brilha uma mensagem.

"Tem dois presentes de grego para você em cima da mesa do computador."


Ragabash tinha comprado cigarros para mim e por uma estranha transmissão de pensamentos, me mandou a mensagem avisando disso no instante em que percebi que estava sem minha dose de nicotina.



Pequenas coisas. Mas que mostram que ter suporte torna o processo de escrever muito mais propício.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Garatujas

Hoje eu entrei em uma fase da escrita do livro que estava demorando pra chegar (eu realmente preciso voltar para a terapia, mas ter um bom professor as vezes ajuda pacas). Avisei no Facebook que vou estar fora e consegui mergulhar no espírito da história.

Não sei explicar muito bem meu processo criativo, mas envolve uma espiral bem maluca de coleta de referências e construção mental da trama, mas eu preciso ter escrito alguma cena chave para conseguir cair dentro da história e a partir daí a coisa fica obsessiva, eu acordo, durmo, como e respiro aquela história. Agora cada segundo do meu tempo acordada parece ser uma foto em dupla exposição, ao mesmo tempo aqui e no mundo que estou escrevendo.

É um pouco o jeito como eu leio.

Ler fez parte desse processo. Li um livro, de uma autora bem legal chamada Ana Lúcia Merege, e li algumas coisas minhas que estão engavetadas. Eu pretendo falar delas por aqui uma hora dessas.

Pode parecer arrogante, mas quando leio coisas que escrevi a tempo suficiente para ter me esquecido das palavras, eu vejo que escrevo bem. Claro que tem muito a melhorar, sempre tem. Mas o material é bom.

Isso me dá mais segurança. Porque mesmo que nesse momento pareça que não sou boa o bastante para contar a história de Alma, eu sei que só eu posso contar essa história, assim como só eu posso contar a história da Serpente, e só eu posso contar a história de Dandara (vou mudar esse nome) e dos três Corvos. Porque embora outras pessoas possam saber mais do mundo real que se reflete feito espelho no meu mundo fictício, só em mim moram essas exatas palavras e só minha voz vai dar vida para eles.

Até o momento em que estejam impressos ou na tela de outras pessoas. Só então é que outras vozes vão poder se somar a minha para continuar essas histórias.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O que é Alma e a Tempestade

Alma é uma menina de quase dezessete anos. Está saindo do terceiro ano do Ensino Médio, e junto com seu pai Antônio, foi para Santa Estela passar alguns meses enquanto ele termina sua tese de doutorado e ela decide o que quer da vida. A adolescência é sempre uma época esquisita, para todo mundo. Mas para Alma é um pouco mais. Seu pai Davi é um xamã, e ela também pode se tornar uma.

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Nas lendas de todos os povos, xamãs, bruxas, santos e profetas tem poderes capazes  de mudar a realidade, muito além das possibilidades das pessoas comuns. É como se com a passagem das eras, esses grandes feitos fossem ficando cada vez mais raros, até que o mundo se tornou do jeito que é hoje. Mas e se essas pessoas, humanos conectados ao Espírito do Mundo, ainda pudessem fazer aqueles grandes feitos da aurora dos tempos?

Essa é a premissa de Alma e a Tempestade. Um mundo quase igual o nosso, mas onde os xamãs, bruxas e santos das lendas, ainda fossem capazes de mudar a realidade de um jeito nada sutil. Onde poderes mágicos, ainda que incomuns, existem e podem moldar o mundo. Onde novas lendas estivessem sendo forjadas. E nessa história, vamos ver como uma lenda se inicia.

Uma moça. Uma dúvida. Um espírito ancestral. Uma tempestade.

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Alma e a Tempestade vai sair pela Editora Presságio, dentro da coleção Infinitos Mundos.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Santa Estela

A história de Alma e a Tempestade se passa em uma cidade litorânea que poderia estar no sudeste do Brasil. Nesse pequeno microcosmo, dançam algumas das muitas influências sobre a pessoa que eu sou, e as histórias que posso contar. Falando um pouco de mim, embora eu tenha crescido em uma cidade industrial, assim como Alma, eu sempre tive a Mata Atlântica como meu quintal. Minha infância não foi campestre ou citadina: acima de tudo, minha infância foi silvestre. Existe um prazer em correr no meio das árvores e das samambaias, mergulhar na água gelada que brota na serra, modelar objetos na argila que você mesmo recolheu, ouvir o som da mata e deitar quietinha no chão coberto de folhas para deixar os vaga-lumes pousarem em você. Não existem palavras que expliquem a sensação de estar cercada pelo musgo que cobre o granito da Serra do Mar.

Foi assim que Santa Estela surgiu. Como uma colagem de memórias, minhas e de outros, desses pedaços de chão que envolvidos pela Serra, fazem da gente quem a gente é.



Santa Estela

Santa Estela foi fundada na época da colônia.  O centro da cidade ainda conserva as construções de taipa e pedra dessa época, com suas paredes grossas pintadas de branco com molduras de cores vivas e janelas compridas, calçadas estreitas e calçamento de pedra irregular.

Esse é o núcleo original da  cidade. O Mercado dos Pescadores, o prédio da prefeitura - antiga Câmara e Cadeia - , a igreja da padroeira, a escola que um dia pertenceu aos jesuítas. Os comércios, as pousadas, a casa de cultura, ocupam o antigo casario, as antigas casas pertencentes antes às famílias com mais posses, os descendentes dos portugueses da vila original, com seus quarteirões organizados e suas ruas de nomes antigos: Rua da Fonte, Viela do Fogo, Rua do Comércio, Rua do Recreio, Beco da Escola. Os adolescentes de Santa Estela chamam o centro velho de "cidade dos turistas", apesar de também passarem muito tempo ali, com a escola, a lan-house, o mercadinho do seu Bernardo e a praça - e nisso acabou quase tudo que se tem para fazer ali. A pousada mais antiga da cidade é a Casa dos Doze, um casarão que pertenceu aos donos do Engenho Caído. Dizem que na noite antes do Dia de Finados, ainda se pode ver a procissão das almas passando pela Rua do Recreio e indo até a igreja de Santa Estela. Pontes de pedra em arco cruzam oito vezes por cima do rio São Miguel, que corta parte da cidade velha.

Depois do Mercado, se estica a vila dos pescadores. Ali, mesmo as casas mais novas são feitas de taipa e caiadas de branco, indistinguíveis das construções mais antigas em um primeiro olhar - você percebe a idade das casas quando vê as chaminés dos fogões a lenha. As ruas de areia e terra, os quintais separados por cercas de taquara, com suas hortas e seus varais, abrigam geração após geração de pescadores caiçaras. É a parte da cidade mais próxima da praia, do pier dos pescadores, das canoas e das redes. Hoje em dia, um galpão de telhado de zinco abriga a cooperativa de artesãs, onde as mulheres tecem redes e rendas, trançam cestos, costuram bordados, e os velhos esculpem a madeira balsa em forma de brinquedos, barquinhos e canoas. Ali as crianças aprendem essas artes para que não se percam. Tia Luiza é a alma da cooperativa, e quem a vê andando por ali, não imagina que foi só aos vinte e poucos anos de idade que chegou na cidade.

Logo ali a serra quase toca o mar. E as trilhas do Parque levam para cantinhos agradáveis da mata, cachoeiras e ruínas escondidas pelas árvores. A capelinha de São Miguel está ali, no topo de um morrinho, assim como o que restou da Casa da Velha, cheia de histórias que ninguém sabe bem se são verdade. Você pode subir a trilha da Pedra Partida para chegar na ponta da serra que está mais para dentro do mar, onde pode enxergar a meia lua que a cidade forma, cercada pela serra, a estrada velha e a estrada nova (que já não é mais nova desde os anos 60), e a outra ponta da serra do lado oposto da baía. Faz parte do Parque o Engenho Caído, a fazenda de cana de açúcar que em uma noite de tempestade séculos atrás foi arrastada, coberta pela lama do rio Pauerê, que mudou de lugar e levou embora na enxurrada tudo que estava no caminho. Até hoje o alarme as vezes soa porque o rio, raso e manso, enche de repente em uma cabeça d'água que leva tudo que encontrar para alto mar. Ninguém diz o nome que o Engenho Caído tinha antes de virar ruína - dizem que dá má sorte falar disso. O Engenho Novo fica um pouco mais distante, enfiado na serra. Foi um engenho de fogo morto muito tempo, mas agora, com o turismo, voltaram a fabricar cachaça e açúcar, mesmo que muito pouco perto do que era antes.

Mas do lado oposto da Baía de São Miguel, ou Baía do Arcanjo, como o povo costuma dizer, uma estrada de terra sobe para a outra ponta da serra. Lá estão o bairro mais antigo e o mais novo da cidade. Quilombo Velho, isolado de quase tudo, com suas casinhas redondas, suas roças de milho e mandioca, dividido entre a pobreza extrema e o orgulho de sua herança ancestral, mais antigo do que a vila, e até hoje difícil de chegar, e Serrinha, com suas casas escondidas pelas árvores, uma comunidade alternativa de artesãos, artistas e gente da cidade que procurava uma vida mais sossegada. Serrinha tem algumas casas que são alugadas para temporada, e uma escadaria que leva para uma praia isolada, com uma fonte e uma caverna fechada por correntes - dizem que na caverna, mora um Encantado.

Seguindo depois de Serrinha, estão as ruínas do Forte, que não era muito mais do que uma muralha com dois canhões em seus melhores dias, e que hoje foi quase tomada de volta por completo pela mata. No pé da serra, o terreiro de seu Benedito benzedor, apesar de grande, está quase escondido das vistas de quem não sabe o que procurar, perto da Cachoeira Grande. Quando a maré está baixa, dá para andar com água nos tornozelos até a Pedra da Sereia, centenas de metros para dentro do mar, mas é preciso voltar antes que a maré vire, porque a pedra é assombrada e dizem que quem passa a noite na cabana batida pela água que está ali não volta para contar o que viu.   




Essa é Santa Estela. Poderia ser qualquer cidadezinha litorânea, cheia de histórias, tentando sobreviver neste século, depois de quase desaparecer muitas vezes, dividida entre o turismo e a tradição, com gente igual a gente de todo lugar - e por isso mesmo, gente única que você nunca verá desse jeito em outro lugar.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

tá feio, eu sei

mas eu sou escritora, não designer gráfica.

eu sei que o visual tá horrível. Prometo que vai melhorar. Eventualmente.

Fiquem com o gif mais anos 90 que eu encontrei para todo blog que sempre dizia que tava com o layout cagado.

WTF é este blog

Antigamente, quando na internet era tudo mato, fazer um blog parecia muito mais fácil. Era mesmo uma coisa que a gente fazia sem pensar, só para ter onde gritar as nossas pirações e ser ouvido. Isso foi antes das redes sociais e da profissionalização dos blogs.

Mas embora eu esteja em N redes sociais e escreva minhas besteiras em colunas de sites por aí, eu queria um espaço para dar voz a assuntos literários. As coisas em que estou trabalhando. Os exercícios de escrita que eu faço. Coisas que li e quero discutir, ideias que estão na minha cabeça. As loucuras que envolvem minha biblioteca e sua mania de alterar o espaço-tempo.

Existe gente que tem um processo criativo que prevê o isolamento, o não falar do que está fazendo, o guardar para si. Eu sou o contrário. Sou cria de oficinas de escrita, sou cria da Oficina Aberta da Palavra e da Escola Livre de Literatura. Para mim, o processo de escrever é um processo muito coletivo, muito compartilhado, que funciona melhor se eu posso falar e discutir e organizar as ideias enquanto mostro as ideias para outras pessoas. Nenhum jeito está certo ou errado. Mas o meu jeito é esse, e um blog é o espaço possível para eu manter isso organizado & relativamente isolado do resto das coisas da vida.

Neste blog, as regras são as seguintes:

* Não existe compromisso em quando-como vou fazer postagens. Posso escrever aqui dez vezes em uma semana e nenhuma em um mês. Porém, blog se alimenta de comentário e o retorno que eu receber vai influenciar o quanto vou publicar aqui.

* Quatro tipos de textos vão ser o material básico aqui:

-textos literários meus: micro contos, contos, noveletas, prosas poéticas, exercícios (siiim, exercícios, o que significa um troço não terminado/fechado e as vezes de qualidade duvidosa)

-materiais de referência e relacionados aos textos longos que estou trabalhando. Personagens, cenários, trechos, contos dentro dos universos dos materiais mais densos. (por enquanto e por favor só isso já é demais, são cinco os galhos da árvore do mundo onde vamos pousar nossos olhos. Um mundo steampunk, um mundo cyberpunk, um mundo de fantasia mourisca com cogumelos, um mundo de high fantasy, e um mundo de fantasia contemporânea). Provavelmente cada mundo vai receber mais atenção conforme eu for trabalhando no texto principal, mas sempre vou usar aqui como biblioteca de anotações.

-textos teóricos sobre o processo criativo, ou por conta de coisas lidas ou porque preciso gritar meu desespero para as paredes e as daqui parecem bem simpáticas para eu rasgar com as unhas.

-resenhas e análises de textos ficcionais de outras pessoas.

*Eu me permito colar citações de autores que eu gosto sem a menor relevância para o que está acontecendo só com a função de servir de "mural de inspiração" (tecnicamente isso seria um quinto tipo de post, mas eu não sou muito boa em organizar coisas em tópicos).

* Este blog é relativamente sério. Atentem para relativamente.

Bom, é isso por enquanto. Beijas de trevas.